Morre Niéde Guidon, pioneira da arqueologia brasileira, aos 92 anos, no Piauí
Seu trabalho transformou o entendimento sobre o povoamento das Américas.
A arqueóloga Niéde Guidon, uma das mais importantes pesquisadoras da história brasileira, morreu na madrugada desta quarta-feira (04), aos 92 anos. O falecimento foi confirmado por Marian Rodrigues, chefe do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde Niéde dedicou mais de cinco décadas de sua vida à pesquisa e escavações que mudaram o entendimento sobre a presença humana nas Américas. As causas da morte não foram divulgadas.
Em nota, o Museu do Homem Americano lamentou a perda de Niéde Guidon, destacando sua contribuição imensurável para a ciência e para a preservação da cultura brasileira. A Prefeitura de Coronel José Dias também se solidarizou com a família e declarou luto oficial em sua homenagem.

Trajetória de dedicação à ciência e à preservação
Niéde Guidon foi pioneira ao defender, com base em evidências arqueológicas, que o povoamento do continente americano teria ocorrido há mais de 50 mil anos, muito antes das teorias tradicionais. Suas descobertas, realizadas principalmente em abrigos rochosos com pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara, que abrange parte dos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias, causaram debates intensos na comunidade científica internacional e colocaram o Brasil no centro das discussões sobre a pré-história das Américas.
Ela foi responsável por transformar a região da Serra da Capivara em um dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo. O parque, que ela ajudou a criar, foi declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1991.

Impacto local e internacional
Niéde Guidon não foi apenas uma cientista, mas também uma defensora incansável da preservação do patrimônio cultural e natural do Brasil. Sua luta pela criação e manutenção do Parque Nacional da Serra da Capivara trouxe grande desenvolvimento para a região e impactou tanto a comunidade local quanto a pesquisa científica.
Em 2024, ela foi homenageada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) com o título de Doutora Honoris Causa, em reconhecimento à sua contribuição científica e cultural.

A arqueóloga e sua ligação com a comunidade
Niéde também se destacou pelo trabalho social na região, promovendo o empoderamento das mulheres locais e incentivando o desenvolvimento de projetos econômicos e educacionais, como apicultura e turismo sustentável. Sua visão, muitas vezes criticada, ajudou a transformar a Serra da Capivara em um ponto turístico e científico de importância mundial.