Afetividades contemporâneas: como o filme Divertida Mente reflete nossas emoções
Uma análise da vida real diante do filme Divertida Mente 2, em exibição nos cinemas.
Uma cena do novo filme da Pixar-Disney, Divertidamente 2 traz de forma cômica a chegada das novas emoções: .Ansiedade, Inveja, Vergonha, Tédio e Nostalgia que somam as outras já existentes: Alegria, Medo, Tristeza, Nojo e Raiva. Na cena se evidencia as mudanças “ na mente” da personagem central com a chegada da puberdade, como se fosse uma “ reforma e bagunça”. Digamos que a “ puberdade” seja ampliada para as transformações afetivas na contemporaneidade, como estariam nossas emoções?
O ritmo acelerado, a conectividade, as telas, a ocupação do tempo parecem nos levar a um lugar de “ corrida perdida” e uma sensação que “ não estamos sendo produtivos” ou ainda “ de não dar conta” , aliado a isso, temos que refletir como anda nossa afetividade em tempos atuais.
As transformações sociais e tecnológicas “afetam” a dinâmica comportamental nas esferas do repertório socioemocional como respostas das pessoas diante dos desafios e manifestações presentes no contexto da sociedade contemporânea. Esse “ afetar” não está relacionado a um juízo de valor “ positivo” ou “ negativo”, mas deve ser considerado que novas emoções, sentimentos , percepções podem evidenciar sintomatologias e que alertam para um cuidado maior em relação à “ saúde integral”.
Em relação às competências e as habilidades que estão inseridos no repertório socioemocional temos que elas podem se apresentar em um conjunto de 5 macrocompetências socioemocionais : abertura ao novo, amabilidade, autogestão, engajamento com os outros e resiliência emocional e 5 dimensões de habilidades socioemacionais: autoconhecimento, autocontrole, empatia, relacionamento interpessoal e tomada de decisão responsável.
Assim como no filme mencionado no início, as “novas emoções” no contexto da sociedade contemporânea assumem características como a “ Ansiedade”, na qual reflete um comportamento muito presente de preocupação , necessidade de produtividade, foco em atividades futuras e multitarefas ; a “ Inveja”, que traz esse sentido de comparação, atrelado muitas vezes às redes sociais, frustração e sentimento de inferioridade; a Vergonha, associada ao risco de exposição e por uma sociedade vigiada com o uso de celulares , algoritmo e câmaras de segurança; o Tédio instalado pelo uso excessivo das telas, desânimo em atividades de rotina, a não adequação ao ócio e a Nostalgia , que nos remete à visitação às lembranças, e sentimentos de ter já ter vivido as boas experiências de outrora.
Promover aquisições das competências e habilidades socioemocionais são essenciais para assumir uma posição de adequação e pertencimento, gerenciando o autoconhecimento para lidar com as diferenças, adversidades, senso de responsabilidade coletiva, criticidade , respeito etc. Cabe ressaltar que essas competências e habilidades são gradualmente adquiridas pela relação com o outro e esse mundo que o cerca. São desenvolvidas formalmente e informalmente, em processos que passam pela psicoterapia, pela educação e interação social.
As identidades contemporâneas, que contemplam pluralidade de gênero, sexualidades, raça, etnias a questão socioambiental, com eminências de catástrofes, pandemias e crise migratórias ; a violência urbana que remete a um estilo de vida de coerção e isolamento social, com sensação de insegurança e medo. Nesse cenário é que se vivencia as afetividades contemporâneas, atravessadas por questões de identidade, estilo de vida e repertório comportamental que necessitam cada vez mais das aquisições das habilidades e competências socioemocionais.
Sendo assim a abertura ao novo, a amabilidade, a autogestão, o engajamento com os outros e a resiliência emocional são essenciais para esse mundo atual , de transformações e transições eu desenvolvimento do autoconhecimento, do autocontrole, da empatia, com relacionamento interpessoal satisfatórios e tomada de decisão responsável para contribuir com uma sociedade mais consciente e para um melhor convívio social.
Incentivar as práticas coletivas , a leitura, as atividades culturais , o contato com a natureza sinalizam como parte do caminho para o desenvolvimento e aquisição dessas competências e habilidades, e fazê-las de forma mais precoce possível, já que a infância corresponde uma etapa fundamental na constituição da personalidade.
Uma grande aliada tem sido a educação, que já insere as competências e habilidades socioemocionais nos currículos escolares, o que pode ser observado em projetos políticos -pedagógicos contemplados nas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é um dispositivo que dispõe dos objetivos que estudantes devem desenvolver ao longo da educação básica.
Olhar para as habilidades e competências socioemocionais na atualidade é olhar um sujeito nesse mundo do século XXI, com todas as especificidades que lhe atravessam e que desemboca em afetividades contemporâneas, com a explosão de sentimentos e relações que se estabelece consigo, com o outro e com o ambiente em que se encontra de forma assertiva, coerente e congruente, valorizando os aspectos positivos para uma existência com uma potência de vida capaz de transcender as adversidades.