Fotógrafo denuncia empresária que o acusou de ser assaltante em Teresina
O profissional foi vítima de injúria e ação de Fake News pela empresária, em grupos de WhatsApp.
O que era para ser apenas uma compra em um comércio, localizado no bairro Parque Sul, zona Sul de Teresina, se tornou uma série de momentos de constrangimento, medo e revolta por parte do fotógrafo e viodeomaker, Vinicius Nascimento. Na segunda-feira (25), Vinicius e seu amigo Weslley foram acusados, indevidamente, pela proprietária de um estabelecimento comercial, sem identidade revelada, de serem supostos assaltantes do local, em que afirmava que eles só não a assaltaram porque ela chamou uma outra pessoa para a protegê-la, caso algo acontecesse.
Os profissionais nem imaginavam que estavam sendo associados a um crime sério, que na verdade, vítimas de injúria e ação de Fake News, que poderiam causá-los danos como violência, linchamento e repercussão negativa de suas imagens nas redes sociais. Vinicius Nascimento conta como, de fato, ocorreu sua presença no estabelecimento.
“Nós estávamos voltando do Espaço Cidadão, onde fomos emitir o Rg e ao retornar pra casa decidimos passar no mercadinho próximo. Weslley entrou no mercadinho e eu fiquei ao lado de fora mechendo no celular. Meu amigo seguiu pegando os itens e colocando no balcão, as pessoas foram saindo aos poucos, até que ficou somente o Weslley dentro. Em um momento, ele veio até mim perguntar se eu queria algo informei que não, ele voltou para o caixa para ver o valor, entrei no estabelecimento para realizar o pagamento em débito, assim finalizamos a compra e fomos pra casa tranquilamente”, disse o fotógrafo.
Ambos descobriram, através de vídeos de câmera de segurança do local circulavam em grupos de WhatsApp e um áudio da proprietária, em que alertavam as pessoas para terem cuidado com eles, pois estavam no comércio para assaltá-la. Eles registraram um Boletim de Ocorrências.
“Por volta das 17h, eu estava dormindo e fui surpreendido pelo Weslley informando que havia recebido um vídeo do seu tio que é policial e que os vídeos estavam rodando em vários grupos, junto com o áudio da proprietária do estabelecimento, informando que nós iríamos assaltar o estabelecimento. Nós ficamos com muito medo de toda a repercussão e buscamos ajuda na delegacia mais próxima, registrando Boletim de Ocorrência, afim de evitar maiores problemas”, pontuou o videomaker.
A advogada popular, Jéssica Rocha, do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos e do Coletivo Advocacia Popular Piauiense, afirma que este caso é uma ação de Fake News tipificada como injúria.
“O ato de acusá-lo de ser assaltante pode ser tipificado como injúria e o fato da fake News acontecer via WhatsApp, qualifica o crime e triplica a pena. Uma vez que, os danos da ofensa são incalculáveis. Ainda hoje no Brasil, pessoas sofrem linchamento e morte devido a disseminação de vídeos como esses”, explica a advogada.
O sociólogo Kaire Aguiar afirma que a desinformação se espalha rapidamente, podendo manchar a imagem de alguém.
“O Vinicius sofreu do crime de calúnia e difamação. É alarmante que a honra e a integridade de uma pessoa seja colocado em jogo, sem ela nada ter feito ou por mero achismo. A desinformação acaba se espalhando no mesmo fluxo ou até mais rápido. Ele fez certo em fazer um boletim de ocorrência para evitar constrangimento ou uma situação em que ele poderia sofrer alguma consequência mesmo sendo inocente”, reforça o sociólogo Kaire Aguiar.
Ainda que consideremos os altos números de vítimas de assaltos e em como isso pode nos levar a estado de alerta e desconfiança constante, isso não se confunde com discriminação. É preciso chamar atenção para o estrago que as fakenews podem causar.
A advogada criminalista, Lívia Leão, alerta que o fotógrafo pode ter sofrido racismo. “Na ótica dos Direitos Humanos, podemos nos questionar o que motivou essa senhora a afirmar que seria assaltada por eles. Essa discriminação foi gerada pela cor do jovem apontado no vídeo? Pelas roupas? Pelo comportamento? Esses questionamentos são mt importante para compreendermos o “animus” da Sra que agiu de forma preconceituosa. Sendo uma discriminação pela cor, uma vez que, o jovem apontado no vídeo é um homem preto, é preciso considerar que ele pode ter sofrido racismo”, disse a advogada.