Entre sonhos e lições: o poder da educação inclusiva em transformar vidas
Do portão azul ao plenário da Alepi, o Piauí mostra que inclusão é um ato de amor e cidadania.
Na periferia de Teresina, o bairro Tabajaras guarda histórias que raramente chegam às manchetes. Ruas de terra batida, casas simples, vida apertada e humilde. E, no meio disso tudo, uma mulher que aprendeu a transformar o cansaço em força.
Numa casa pequena, de porta enferrujada e sempre aberta para o vento que vem do fim da rua, mora Laiane. O sorriso é tímido, o olhar atento. Com pouca idade, aos 25 anos, ela é mãe solo de duas crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA): Rebeca, de cinco anos, e João, de sete.
Rebeca vive num mundo só dela. Passa horas diante da televisão, assistindo aos mesmos desenhos, com o olhar fixo, as mãos firmes no controle remoto e sua cadeira de plástico, sempre em frente à televisão. Quase ninguém consegue se aproximar quando o aparelho está ligado, quase. João é a exceção. O irmão sempre encontra um jeito de arrancar um sorriso dela.
A mãe observa os dois em silêncio. Já aprendeu a entender o que cada gesto, cada olhar, cada pausa quer dizer. “Meu dia é muito difícil”, desabafa. “Ela é muito agitada. Eu tento cuidar, mas às vezes me sinto sem forças”, diz Laiane Oliveira.
O diagnóstico veio cedo: autismo severo, nível 3. João também tem autismo, além de paralisia cerebral e microcefalia. A rotina é dura, mas Laiane tenta seguir. “Percebi que Rebeca era diferente quando começou a ficar agressiva, não gostava de barulho. Quando veio o diagnóstico, foi difícil aceitar. Tive que mudar tudo na minha rotina”, explica.
O marido foi embora há quatro anos. Desde então, ela cria os filhos sozinha, com renda que gira em torno de R$ 1.400 por mês. O dinheiro mal cobre o aluguel, a alimentação e os remédios. “Às vezes nem tenho pra pagar a medicação”, conta. Já enfrentou depressão, chorou escondida, pensou em desistir. Mas resistiu.
Rebeca ainda não estuda. A mãe tenta uma vaga em uma escola perto de casa, mas sempre ouve que “só depois dos seis anos”. No fim do dia, quando o silêncio toma conta da casa, Laiane olha para os filhos e respira fundo. Nesse respiro cabe tudo: o cansaço, o medo, o amor, a esperança. É dele que vem a força para recomeçar no dia seguinte.
Quando o acolhimento muda uma vida
Do outro lado da cidade, no bairro Jacinta Andrade, zona norte de Teresina, a rotina de Valéria e da filha Lara começa sempre com passos lentos e mãos dadas. O caminho até a escola é curto, mas cheio de sentido. Lara canta baixinho, ainda tropeçando nas palavras. O som se mistura ao barulho dos carros, e Valéria sorri. “É o momento mais bonito do meu dia”, diz.
Desde a gravidez, ela sonhava em ter uma menina. Imaginava os laços de fita, as risadas, os primeiros passos. Quando Lara nasceu, veio junto a promessa de um amor sem medida. Mas o destino não seguiu o roteiro esperado.
Quase aos dois anos, começaram as crises epilépticas. As noites sem dormir, as idas e vindas a hospitais, os remédios, o medo, começaram a surgir.
“Cheguei a sair do meu trabalho para cuidar dela. Hoje, vivemos com o sustento do meu marido, que trabalha como motorista de aplicativo, levando comida para dentro de casa”, conta Valéria Barbosa.
A família é simples, mas o amor nunca faltou. Nos momentos mais difíceis, quando o dinheiro não dava, Valéria, mãe de quatro filhos, vendeu o que pôde dentro de casa para pagar exames e garantir o tratamento da filha. “A gente vai dando um jeito. Quando é pelo filho, a força aparece”, diz, com os olhos marejados.
Foi depois de uma série de exames e consultas que o diagnóstico chegou: Transtorno do Espectro Autista (TEA). A notícia veio sem manual de instruções, mas com um convite para recomeçar.
“Fiquei com medo, achando que nunca ia dar conta. Mas o amor da gente ensina. Fui estudar, assistir a vídeos, conversar com outras mães. Descobri que o autismo não é o fim de um sonho, é só um recomeço diferente".
O preconceito, ela lembra, foi outro desafio — dentro da própria família, nas ruas, nos olhares curiosos. “As pessoas perguntam se é birra, se é falta de educação. Mas não é. É só o jeitinho dela de sentir o mundo.”
Foi na escola que Lara encontrou o primeiro espaço de acolhimento. A professora Deusa percebeu o tempo da menina e adaptou as atividades. “Antes, ela mal se concentrava por alguns segundos. Hoje, assiste a um filme inteiro, canta suas músicas preferidas e reconhece letras. Ver essa transformação é um sonho realizado”, diz Valéria, emocionada.
A escola virou o ponto de virada, o lugar onde Lara aprendeu a se expressar e onde a mãe aprendeu que o amor também tem o seu ritmo. “A Lara floresceu porque alguém acreditou nela. A escola foi o primeiro lugar onde ela foi realmente compreendida”, afirma.
O progresso de Lara mostra o poder da educação quando ela é feita com empatia. Mesmo com recursos limitados, a família encontrou na escola uma parceira e, na educação, o caminho para mudar a própria realidade.
A escola onde o aprendizado vai além das palavras
É no ambiente escolar onde Lara estuda que a história ganha cor e ritmo. Atrás do portão azul do CMEI Raquel de Queiroz, no Jacinta Andrade, existe uma sala cheia de descobertas. Entre tintas, brinquedos e letras coloridas nas paredes, está a “tia Deusa”, com sua paciência e dedicação.
O barulho dos lápis riscando o papel se mistura às vozes curiosas das crianças. É ali, na Sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE), que histórias de superação se tornam visíveis a cada gesto.
Tia Deusa chega cedo, organiza o espaço, ajeita os brinquedos e prepara as atividades. Cada detalhe tem um propósito: ensinar é também observar, escutar e acolher.
“As crianças aqui são pequenas. Às vezes, o primeiro desafio é apenas fazê-las sentar e prestar atenção. Cada olhar, cada gesto já é um começo”, diz Deusilene Vicente, professora de Atendimento Educacional Especializado (AEE), com um sorriso sereno.
Na escola, 57 alunos têm diagnóstico de autismo, e outros ainda aguardam avaliação. Cada criança aprende de um jeito, e é justamente essa diversidade que move o trabalho da professora. “Muitas não aceitam atividades prontas. Então deixo que explorem, brinquem, observem. A partir disso, vou criando algo que desperte interesse. É preciso sensibilidade, paciência e criatividade”, explica.
As conquistas são celebradas com emoção. “Tem o João, que quase não falava. Hoje, já descreve um passeio inteiro. E o Matheus, que não conseguia escrever, agora faz o alfabeto. A mãe chorou de emoção e eu chorei junto”, afirma.
Além de trabalhar com as crianças, tia Deusa acolhe as famílias.
“Muitas não têm acesso a terapias fora da escola. Então, o que fazemos aqui é essencial. Sempre converso com as mães, explico o que foi trabalhado e oriento como continuar o estímulo em casa. É uma parceria”, diz.
A coordenadora pedagógica Francisca Rosa reforça o valor da inclusão.
“A escola é o primeiro espaço de convivência social. É aqui que elas aprendem a dividir, esperar e se comunicar. Esse contato transforma não só o aluno, mas toda a comunidade escolar. Cada avanço é um mundo novo se abrindo”, comenta.
O portão azul da escola se tornou símbolo de um novo começo. Porque, quando a escola acolhe, ela transforma e ensina que toda criança pode aprender, basta que alguém olhe com cuidado o jeito dela de sentir o mundo.
Transtorno do Espectro Autista: compreensão, desafios e a importância da educação
Crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) representam a maior parcela dos estudantes da educação especial no Brasil, com taxa de escolarização de 36,9%, frente à observada na população geral (24,3%). Nos últimos anos, o número de diagnósticos cresceu significativamente, despertando uma pergunta comum: por que estamos identificando tanto autismo hoje?
Segundo o Censo Demográfico de 2024, cerca de 38 mil piauienses foram diagnosticados com TEA — o equivalente a 1,2% da população do estado. A maior parte está na infância, com mais de16 mil crianças entre 0 e 14 anos, e o diagnóstico é mais frequente entre meninos (1,5%) do que entre meninas (0,8%). Entre os municípios piauienses, Murici dos Portelas lidera com 2,5% da população diagnosticada, seguida por Canavieira (2,3%) e Morro Cabeça no Tempo (2,2%). Entre as cidades mais populosas, Teresina registra 1,7% de pessoas com TEA, Parnaíba 1,4% e Picos 1,3%.
Para a pediatra Dra. Lorena Barreto, esse aumento não significa necessariamente que existam mais pessoas autistas. “Estamos identificando melhor essas crianças e adolescentes. Hoje temos mais informações, redes sociais, profissionais capacitados na saúde e na educação, e critérios de diagnóstico mais acessíveis. Esse crescimento reflete maior conscientização e diagnóstico precoce, e não uma epidemia”, explica.
O autismo é um transtorno de base genética, presente desde o nascimento, que se manifesta de formas diferentes em cada pessoa. Por isso, o conceito de “espectro” é tão importante: ele funciona como um guarda-chuva, reunindo manifestações que antes eram atribuídas a traços de personalidade, como timidez ou comportamento “estranho”.
O diagnóstico precoce, porém, ainda é um desafio. Segundo a Dra. Lorena, “na atenção básica, muitas vezes falta capacitação para identificar sinais iniciais. Além disso, as consultas são curtas e há muitas crianças para avaliar. Nem sempre os primeiros sinais são claros. Mas, com capacitação, conscientização dos profissionais e participação dos pais, conseguimos avançar”, informa a médica.
Ferramentas como o e-MChat, agora incluído no cartão de vacinas, ajudam a detectar sinais de alerta e direcionar para acompanhamento precoce. “O e-MChat não diagnostica a criança, mas levanta sinais de atraso, permitindo estimulação precoce. Quanto antes essa criança for identificada, melhores são as chances de intervenção e desenvolvimento”, destaca a pediatra.
Educação: a ponte para a inclusão
Se o diagnóstico precoce é fundamental, a educação é a ponte que garante desenvolvimento e inclusão real. Escolas bem estruturadas e equipes capacitadas podem transformar a vida de estudantes com TEA, oferecendo um ambiente acolhedor e oportunidades de aprendizado iguais às de qualquer outro aluno.
No Piauí, a taxa de escolarização da população com autismo é de 43,52%, superior à média geral do estado, que é de 26,12%. Entre os homens com TEA, 51,26% estão matriculados; entre as mulheres, 31,5%. O levantamento mostra também que os jovens de 18 a 24 anos com autismo têm taxa de escolarização maior do que a população geral, evidenciando trajetórias educacionais mais prolongadas e, em muitos casos, o retorno à educação formal.
A Dra. Lorena reforça que a conscientização sobre o autismo mudou a forma como as pessoas o enxergam. “Pais, professores e profissionais da saúde estão mais atentos aos sinais de alerta. Quanto mais cedo identificamos esses sinais, mais cedo começa a intervenção, melhorando o desenvolvimento, a autonomia e a socialização das crianças”, explica.
Mas a inclusão vai muito além de colocar o aluno na sala de aula.
“Incluir é participar, aprender, comunicar-se e ser acolhido. Os professores precisam compreender as limitações de cada criança, perceber quando ela quer socializar e adaptar o ensino para garantir que todos tenham oportunidades de desenvolvimento”, completa.
No Piauí, já existem exemplos de boas práticas: escolas com suporte especializado, atendimento multiprofissional e adaptação de currículos. Essas iniciativas mostram que a educação inclusiva não é só obrigação legal, mas um caminho que gera resultados concretos — crianças mais confiantes, independentes e preparadas para a vida.
Quando educação, políticas públicas e conscientização social se unem, cria-se um círculo virtuoso: quanto mais cedo a criança é apoiada, maior seu potencial de autonomia, comunicação e socialização. É nesse ponto que leis estaduais e o engajamento da Alepi se tornam fundamentais, garantindo que boas práticas se espalhem por toda a rede estadual.
Quando a lei aproxima caminhos: políticas públicas que transformam vidas no Piauí
No Piauí, cada passo em direção à inclusão carrega o peso da esperança. Nos corredores da Assembleia Legislativa do Estado do Piauí (Alepi), projetos e debates se traduzem em algo muito concreto: oportunidades reais para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e suas famílias.
Uma lei recente, sancionada pelo Governo do Piauí e publicada no Diário Oficial em 25 de setembro, garante prioridade de matrícula para estudantes com TEA na escola pública mais próxima da casa ou do trabalho dos pais. Para muitos, essa mudança parece simples, mas transforma a vida de milhares de pessoas: menos tempo no transporte, mais tempo junto da família, rotina mais tranquila e acompanhamento mais próximo do desenvolvimento da criança ou do adolescente.
Medidas recentes do MPPI reforçam esse movimento, com metas para 2026 de ampliação de matrículas na educação infantil, inclusão em classes comuns e expansão de salas de recursos multifuncionais, garantindo que o direito à educação inclusiva chegue a mais crianças com TEA em todo o estado.
O deputado Felipe Sampaio (MDB), autor da proposta, lembra que a inspiração veio da escuta direta às famílias.
“O que me motivou foi ouvir mães e pais pedindo a mesma coisa: estar perto. Muitos trabalham longe e sofrem por não conseguir acompanhar o dia a dia dos filhos. Essa lei aproxima crianças, responsáveis e escolas, criando um elo mais humano entre casa e sala de aula”, explica o parlamentar.
A lei vai além da matrícula: ela obriga as escolas a se adaptarem, tanto no espaço físico quanto nas práticas pedagógicas, para que o aprendizado aconteça em um ambiente de respeito, acolhimento e pertencimento.
“Incluir não é só colocar na sala de aula, é garantir que a criança participe, aprenda e se sinta acolhida. Estrutura e profissionais capacitados são essenciais, mas a sensibilidade para acolher cada criança faz toda a diferença”, destaca o deputado.
Do desconhecimento à visibilidade
Durante décadas, o autismo quase não apareceu nos debates da Alepi. Até os anos 1990, o TEA era pouco compreendido, muitas vezes confundido com outros transtornos ou traços de personalidade. Cada avanço legislativo desde então abriu caminho para visibilidade, respeito e atenção às crianças e famílias.
A Lei Federal nº 12.764/2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, representou um marco nacional. Mas transformar política em prática concreta exigiu diálogo, comprometimento e ação local. No Piauí, iniciativas estaduais vêm fortalecendo a rede de apoio:
- Lei nº 7.627/2021: validação indeterminada do laudo médico que atesta TEA, poupando famílias de burocracia e renovação desnecessária.
- Lei nº 7.746/2022: cria a Política de Atendimento Integrado à Pessoa Autista, garantindo acompanhamento educacional, social e de saúde.
- Lei nº 7.963/2023: estabelece penalidades contra a discriminação de pessoas autistas.
- Lei nº 8.081/2023: institui o Cordão de Girassol, símbolo de identificação de pessoas com deficiências ocultas, incluindo o autismo.
Para o deputado Franzé Silva (PT), legislar sobre autismo é muito mais que aprovar leis — é transformar vidas. “Cada medida representa uma conquista. Nosso compromisso é com as famílias, com as crianças, com a inclusão. Cada lei aprovada é um gesto de respeito, de acolhimento e de garantia de direitos. Estamos transformando a invisibilidade em oportunidades reais”, afirma o parlamentar.
Como as leis impactam o dia a dia das famílias
O efeito das políticas públicas vai muito além do papel. Ele se traduz em sorrisos de crianças acolhidas, na tranquilidade de mães e pais que sabem que seus filhos serão compreendidos, e no trabalho colaborativo de professores, gestores e profissionais que aprendem a lidar com as diferenças de forma empática e sensível.
“Quando a lei se encontra com a educação, o resultado é incrível. Crianças se sentem mais seguras, famílias mais tranquilas e professores mais preparados. Cada conquista legislativa se transforma em desenvolvimento, autonomia e inclusão real”, afirma a pediatra Lorena Barreto, especialista em TEA.
Além disso, escolas do Piauí têm mostrado boas práticas inspiradoras: unidades que oferecem atendimento multiprofissional, adaptação de currículos e espaços de aprendizado acolhedores. Essas iniciativas mostram que políticas públicas e educação inclusiva andam juntas, gerando resultados concretos — crianças mais confiantes, independentes e preparadas para a vida.
Dados do IBGE mostram que a escolarização da população com TEA no Brasil (36,9%) também supera a média geral (24,3%), evidenciando que políticas públicas e conscientização, não apenas no Piauí, mas em todo o país, fazem diferença na vida de pessoas com autismo.
“Cada avanço, por menor que pareça, abre um mundo novo. Nosso trabalho é garantir que essas crianças não apenas existam no espaço público, mas que floresçam nele”, destaca Franzé Silva.
Piauí: inclusão do TEA em âmbito nacional
No Piauí, a inclusão do Transtorno do Espectro Autista deixou de ser apenas uma pauta de debates para se tornar um exemplo vivo de cidadania. Cada lei aprovada, cada escola adaptada, cada professor capacitado não representa apenas um avanço local — é um farol que ilumina caminhos em todo o Brasil.
A atenção dedicada às crianças com TEA e às suas famílias chamou a atenção até do Congresso Nacional. Para o deputado federal Maurício Carvalho (União-RO), presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, o que se realiza no Piauí é inspiração e referência para políticas públicas em todo o país:
“Acredito que a lei aprovada no Piauí é um avanço social significativo, mas o que vemos no Estado demonstra a convergência nacional de esforços para garantir educação inclusiva e adaptada. Cada iniciativa local, cada lei estadual mostra que é possível transformar a vida de crianças e adolescentes com TEA. A garantia de direitos e melhores condições é uma prioridade, e esperamos que essas experiências se multipliquem, chegando a todos os estados”, explicou o parlamentar.
No Piauí, a inclusão deixou de ser apenas teoria: é prática, visível e inspiradora. Cada lei, cada sala adaptada, cada professor capacitado transforma a distância em presença, o direito em oportunidade e o cuidado em cidadania. E é justamente essa referência para outros estados que faz do Piauí um modelo para o Brasil — um lugar onde políticas públicas não apenas existem no papel, mas ganham forma entre cadernos, gestos, sorrisos e sonhos.
Alepi 190 anos: a escuta que transforma
Ao completar 190 anos, a Assembleia Legislativa do Piauí reafirma um papel que vai além de legislar: o de ouvir e transformar. É dessa escuta que nascem as leis que mudam a vida das pessoas — da criança com autismo que ganha o direito de estudar perto de casa, à mulher que encontra proteção contra a violência, ou ao trabalhador que conquista acesso digno à saúde.
No coração da Casa do Povo, o conceito de inclusão deixou de ser discurso e virou prática. Cada projeto aprovado reflete uma sociedade que aprende a reconhecer suas diferenças e a transformá-las em força coletiva.
Para o presidente da Alepi, deputado Severo Eulálio, essa é a essência do Parlamento piauiense. “A Assembleia é a caixa de ressonância da sociedade. Quando a população clama, nós escutamos.A inclusão é um compromisso permanente: garantir acessibilidade, combater o preconceito, apoiar a educação, a saúde e a formação cidadã. É assim que a Alepi contribui para uma sociedade mais justa e participativa”, explica o parlamentar.
Nos últimos anos, o Legislativo estadual se tornou referência nacional em políticas inclusivas. As leis aprovadas aqui inspiram outros estados e mostram que o Piauí está na vanguarda de temas que, até pouco tempo atrás, eram invisíveis: fibromialgia, autismo, saúde mental, igualdade social — pautas que agora ocupam o centro do debate público.
Cada audiência, cada projeto, cada voz ouvida dentro da Alepi ajuda a costurar uma história de 190 anos feita de empatia, representatividade, evolução e transformação. E, se o tempo muda, o propósito permanece: fazer da escuta um instrumento de cidadania e, da lei, um caminho para a inclusão.
O presidente reforça que o futuro da Casa é seguir cada vez mais próxima da população.
“A Alepi é feita de pessoas e para as pessoas. Nosso papel é continuar sendo ponte entre o cidadão e as políticas públicas. Nesses 190 anos, celebramos conquistas, mas também reafirmamos o compromisso de seguir ouvindo, dialogando e transformando realidades. Essa é a missão que nos move”, finaliza o parlamentar.
No compasso de cada história, há um mesmo desejo: o de ver o amanhã nascer mais leve. Laiane, mãe do pequeno João e da Rebeca, ainda espera o dia em que vai conseguir uma vaga na escola. Todos os dias, ela sonha em ver o filho vestindo o uniforme, carregando a mochila e aprendendo a falar sobre o mundo que o espera.
“Meu sonho é ver meus filhos estudando com apoio, com professores preparados, com o carinho que eles merecem. A escola é o começo de tudo. É onde eles vão aprender a crescer e acreditar em si mesmos”, diz.
Do outro lado da cidade, dona Valéria já vive esse sonho. Ver a pequena Lara cantar, reconhecer letras e sorrir ao chegar à escola é o tipo de milagre que o amor constrói devagar — entre paciência, afeto e esperança.
“Hoje, eu vejo minha filha aprendendo, evoluindo, sendo aceita. Cada palavra que ela diz é uma vitória. E a escola foi o nosso abraço”, conta, emocionada.
Entre as duas histórias pulsa o mesmo coração: o das mães que lutam, acreditam e transformam o que é desafio em recomeço. Porque inclusão não é apenas abrir uma vaga — é abrir caminhos, oportunidades e olhares. É garantir que cada criança tenha o direito de aprender, de pertencer e de sonhar.
“A Lara é o nosso milagre”, diz Valéria.
Do portão azul ao plenário da Alepi, o Piauí mostra que inclusão é, acima de tudo, um ato de amor e cidadania
