Gigante da Redenção: 50 anos de história e emoções no Estádio Albertão
Uma jornada repleta de memórias, conquistas e desafios no coração do esporte piauiense.
Neste sábado (26), o estádio Governador Alberto Tavares Silva, também conhecido como Albertão, completa meio século de existência. Ao longo desses 50 anos, momentos felizes e tristes tomaram forma na casa do futebol piauiense.
Sua história começou em 1970, um período de sonhos audaciosos e determinação sem limites. Durante o governo de Alberto Silva, o estádio começou a ganhar vida e deixaria sua marca na história do país. A celebração que marca 50 anos ocorreu em grande estilo na tarde de 26 de agosto de 1973. Os gritos das arquibancadas ecoaram por todos os cantos, marcando o início de uma nova era esportiva. O Tiradentes-PI enfrentou o poderoso time carioca Fluminense, selando assim uma data que entraria para a história.

Momentos de comoção
O Correio Piauiense conversou com o jornalista esportivo Severino Filho, conhecido como Buim, que falou sobre os momentos de tristeza que afligiram o Albertão. O primeiro na inauguração, em 1973, quando um avião passou por cima do estádio, causando um tremor na estrutura, causando um pânico no público, que achou que o estádio estava caindo. Neste contexto, muitas pessoas se apavoraram e foram em direção ao gradil de proteção, que separava o público do campo.
“Não existia, na capital piauiense, uma estrutura daquele porte, então quando você tem um barulho ensurdecedor, nas imediações, você tem uma sensação de tremor. Alguém gritou, no setor do placar, que o estádio estava caindo. Pode ter sido por brincadeira, pode ter sido em face dessa sensação diferente. Esse gradil de proteção, junto ao fosso, cedeu e muitas pessoas caíram no fosso. Tivemos, oficialmente, oito mortos.”

O outro momento de tristeza, relatado pelo jornalista, é o da morte de um garoto, que pulou uma mureta, quando o estádio estava sendo construído. Ao ser advertido pelo vigia, o menino correu para um lado escuro, com muita água, e para não se afogar, se segurou em um fio de alta tensão, morrendo eletrocutado.
“Esse fato, praticamente todos desconheciam, até algum tempo atrás, quando foi revelado pelo funcionário Numeriano Sá Filho, que está lá desde a inauguração do estádio. Esses momentos tristes, infelizmente, também fazem parte dessa história cinquentenária”, concluiu.

O jornalista esportivo também ressaltou que o “Gigante da Redenção” passou por três governos (Alberto Silva, Dirceu Arcoverde e Lucídio Portella), e foi motivado por dois amistosos marcados em Teresina, com o Santos de Pelé, contra o campeão piauiense e Cruzeiro, de Belo Horizonte. O jogo do Santos acabou não acontecendo, por causa de uma contusão de Pelé, mas o outro jogo, com o time mineiro, aconteceu um mês depois.
“Além de grandes jogos, como a presença da seleção brasileira principal, em duas ocasiões, em 1989, contra o Paraguai e 1996, contra a Lituânia, houve duas seleções pré-olímpicas em 1992, Brasil e Argentina. Nós tivemos shows artísticos, inclusive de Roberto Carlos, lotando o Albertão. Nós tivemos o maior público de eventos, no Albertão, que foi um show da Turma do Balão Mágico, com 80 mil pessoas. O estádio só cabia 60 mil, mas porque havia pessoas também no gramado. Nós tivemos bingos de automóveis, nós tivemos eventos religiosos e inclusive, também serviu para abrigar flagelados da maior cheia que houve nos últimos anos, a cheia de 1985, a ponto de termos o jogo Flamengo e Ceará, que era do Campeonato Brasileiro, com o mando de campo revertido para a capital cearense, em face do Albertão estar abrigando vítimas das enchentes”, comentou o jornalista.

Linha do tempo
De lá para cá, o estádio tem sido palco de inúmeros momentos históricos que deixaram marcas até hoje em várias gerações. Um exemplo notável disso é o jogador e ex-técnico do Fluminense-PI, Eduardo Ribeiro, que afirma ter o estádio como uma extensão de sua casa. O jogador, que fez história nas decisões dos Rivengos, ressalta sua história com o Albertão, frequentando-o desde a infância, tendo assistido o jogo em que Ronaldo Fenômeno fez um de seus maiores gols, no hat-trick contra a Lituânia, em 1996.
“Em 1998, comecei a jogar profissionalmente, foi quando eu tive o prazer de entrar como jogador profissional, tive a emoção de fazer um gol no maior palco do nosso futebol. Depois disso saí, tive uma passagem longa fora, e quando eu voltei, tive um momento muito marcante, não só para mim, como para os torcedores do River, que se uniram, naquele final de 2015. River contra o Botafogo de Ribeirão Perto, onde o estádio, nas minhas lembranças, foi o maior público que eu presenciei. Esse momento foi grandioso, muito emocionante, primeira vez que o Piauí disputou uma final de campeonato nacional”, comentou.

O jogador afirma que se sente feliz por fazer parte da história do Albertão. “É um dos maiores palcos do futebol brasileiro, então a gente espera ver o Albertão melhor cuidado, respeitado, para que possam aparecer novos craques e dar alegria ao nosso povo”.
Um personagem importante
Já citado por Buim, o administrador Numeriano Sá Filho trabalha no estádio desde sua inauguração e presenciou grandes resultados como os de 1977 até meados da década de 80, com números de 50 mil pessoas. “O que marcou mesmo, foi a inauguração, esse foi o mais importante. Eu me confundo muito com o estádio, porque foi em agosto que eu entrei para trabalhar aqui, no mês de agosto também me casei e tive minha primeira filha, então me confunde muito com a história do Albertão”, relembra o administrador.

Numeriano também afirma que é de suma importância a cobrança dos torcedores para com seus times. “Cobram muito do estádio, mas os torcedores deveriam cobrar muito dos presidentes, para que fizessem times bons, que aí nós teríamos os resultados de 1977, botando 50 mil pessoas aqui, há 46 anos atrás, e pouco tempo atrás, não deu 600 pessoas pagantes”.
O que fica para o agora?
Recentemente o Albertão recebeu o retorno do Piauí Pop, que trouxe uma estrutura com três palcos, confirmando artistas como Biquini Cavadão, Natiruts, Raimundos, Marcelo Falcão e Criolo. O evento mostrou o potencial da arena, como um espaço multiuso.
A história e o potencial econômico do estádio Governador Alberto Tavares Silva fazem necessária a preservação do espaço, o que muitas vezes não é uma realidade.
O Gigante da Redenção não é apenas um local de jogos, mas sim um portal para sonhos realizados e um símbolo de união. Hoje, assim como ontem, ele continua a moldar a história do esporte e a inspirar gerações a sonhar mais alto.