Água, saúde e esperança: o presente e o futuro do saneamento em Teresina
O impacto das ações de saneamento na saúde pública e no desenvolvimento das comunidades.
De gota em gota, da torneira de sua casa, Dona Maria Zilda vê a esperança brotar em um dia que, para ela, parecia impossível: ter água potável. Cozinha limpa, pratos lavados, água na torneira e na geladeira.
Quem a observa com um sorriso no rosto, enquanto bebe água fresca de um filtro em sua cozinha simples, dificilmente imagina a dura jornada que enfrentou para conquistar algo tão essencial. Hoje, ela sacia a sede com tranquilidade, mas nem sempre foi assim.
A história de Zilda é a mesma de muitas famílias teresinenses. Negra, mãe solo de sete filhos, ela chegou à Vila Palitolândia, no bairro Angelim, na zona Sul de Teresina, em 2003. “Era só mato, ruas com lama, esgoto a céu aberto. Para ter água, tínhamos que pegar em um chafariz e carregar baldes na cabeça. Não tinha saneamento básico e minha vida era um desespero”, relembra Maria Zilda Barbosa, auxiliar de serviços gerais.
As ruas eram de terra, o esgoto corria a céu aberto, e a água que chegava nas torneiras era barrenta e suja – quando chegava. Muitas vezes, era preciso armazenar água em baldes e manilhas improvisadas, sem qualquer tipo de proteção. Durante o período chuvoso, os problemas se agravavam. Dengue e chikungunya tornavam-se companheiras frequentes. “Meus filhos sofriam com diarreia, vômito e alergias constantes. Na época, cheguei a gastar quase R$ 2 mil em medicamentos para minha filha, que ficou internada. Foi um absurdo para quem ganha tão pouco”, desabafa.
Do outro lado da cidade, no Residencial Coruja, na região do Vale do Gavião, na zona Leste de Teresina, moram muitas famílias humildes em casas simples. É lá que a dona de casa, Madalena de Oliveira, vive com suas duas filhas. Ela mora nesse lugar há quatro anos, em uma casa pequena, onde o banheiro, a sala e a cozinha ficam no mesmo espaço. O pouco dinheiro que ela recebe do Bolsa Família mal dá para comprar o necessário para sua família.
Dona Madalena se separou do marido há algum tempo e precisou recomeçar a vida sozinha. "Foi aqui, no Residencial Coruja, que eu consegui um novo começo", relata. Apesar do avanço recente no acesso à água potável na região, a casa onde vive ainda enfrenta muitos desafios. A ausência de saneamento básico torna o dia a dia difícil. Quando chove, o terreno ao redor se transforma em lama, e a água acaba invadindo o interior da casa. "A gente vive com o mínimo, o pouco que dá para sobreviver", desabafa.
O ano passado foi muito difícil para a família. Sua filha de oito anos pegou dengue e foi um sofrimento muito grande. "Foi muito triste ver ela sofrendo", lembra. Dona Madalena afirma que a falta de saneamento piorou a situação e, acredita que, se as condições fossem melhores, a doença poderia ter sido evitada.
A história das duas famílias é reflexo de como a ausência de saneamento básico impacta a vida das pessoas, pois viver sem esse serviço não é apenas uma questão de falta de estrutura, mas também de oportunidades para uma vida mais saudável e digna. Embora essa realidade ainda seja um desafio para muitas famílias, é possível reverter o cenário com políticas públicas eficazes voltadas para a saúde e o bem-estar da população.
O sociólogo Kaire Aguiar ressalta que o saneamento básico é muito mais do que uma obra de engenharia. “O saneamento básico é essencial quando se fala sobre a qualidade de vida da população. É algo fundamental para a vida e está ligado a várias questões. Precisa ser inserido na vida das pessoas, com um grau de importância enorme, que se sobrepõe a questões políticas. É essencial que todos reconheçam isso, pois, a partir do momento em que se tem algo essencial, podemos lutar por melhorias estruturadas para a vida da população, buscando diminuir as desigualdades sociais por meio de políticas públicas que beneficiem as comunidades”, explica.
Saúde pública
De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística do Brasil (IBGE), o Brasil registrou, somente em 2022, cerca de 9.500 casos de infecções que resultaram em mortes atribuídas a fontes de água inseguras, saneamento inadequado e falta de higiene. Além disso, os dados revelam que cerca de 1,2 milhão de brasileiros vivem em casas sem nenhum tipo de esgotamento sanitário.
O impacto da falta de saneamento básico é ainda mais preocupante quando atinge crianças e adolescentes. Entre 2018 e 2020, mais de 9 mil meninos e meninas de até 14 anos perderam a vida no Brasil por doenças causadas pela ausência de esgotamento sanitário, segundo o DATASUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde), do Ministério da Saúde. Em 2021, foram mais de 45 mil internações de crianças de 0 a 4 anos com problemas de saúde relacionados a isso.
“Já fomos o país que mais teve óbito em crianças de menos de um ano por falta de sanitarismo. A população mais vulnerável é aquela que não tem acesso ao saneamento básico, como quem vive em comunidades ribeirinhas ou em áreas de risco de enchentes, que propiciam o acúmulo de água e lixo. A deficiência de aterro sanitário, associada à falta de educação sanitária da população, favorece ainda mais ao aparecimento de doenças”, explica o médico infectologista, Nayro Ferreira.
Essa realidade também reflete a situação no Piauí. Segundo a Secretaria de Saúde do Piauí (Sesapi), entre janeiro e outubro de 2024, foram registradas 16.570 internações por doenças relacionadas à ausência de saneamento básico, como diarreias agudas, hepatite A, leptospirose, verminoses e infecções de pele.
No entanto, em Teresina, as melhorias no abastecimento de água e na rede de esgoto estão fazendo a diferença na saúde da população. Para o Walfrido Salmito, diretor de Vigilância em Saúde da Fundação Municipal de Saúde de Teresina (FMS), essas transformações têm ajudado a reduzir as doenças e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
“O saneamento básico em Teresina tem passado por transformações ao longo dos anos com aumento da cobertura da coleta dos resíduos e melhorias no abastecimento de água da população. A redução de doenças se dá pela melhoria do abastecimento de água potável e tratada, prevenindo substancialmente doenças de veiculação hídrica. Assim, com o esgoto tratado adequadamente, o solo não fica contaminado, diminuindo a probabilidade de doenças diarreicas, por exemplo. O controle vetorial para doenças e arboviroses também tem impacto positivo. As alterações positivas serão medidas ao longo dos próximos anos e estudos epidemiológicos serão feitos para medir os impactos dessas ações”, explica.
A água e o meio ambiente
A qualidade da água é essencial não só para a saúde das pessoas, mas também para o equilíbrio do meio ambiente. Quando o esgoto é tratado corretamente, rios e lagos ficam mais limpos, permitindo que a vida aquática se recupere e que os ecossistemas voltem a prosperar. Esse ciclo saudável beneficia animais, plantas e até a produção de alimentos que dependem de recursos hídricos.
Embora a água cubra 70% do planeta, apenas 1% é doce e potável, tornando esse recurso precioso e limitado. Por isso, é fundamental usá-la de forma responsável, garantindo que a água limpa retorne aos rios e lagos. “Quanto mais limpa devolvemos a água para os corpos hídricos, mais pessoas, animais e plantas podem utilizá-la. É um ciclo que favorece a vida e o equilíbrio ambiental”, explica o biólogo Francisco Soares.
O impacto dessa preservação vai além do meio ambiente. Janiele Silva, moradora do bairro Geovanni Prado, na Zona Leste de Teresina, sabe bem o valor da água de qualidade. Desde criança, aos oito anos, ela ajudava os pais na horta comunitária da região. No passado, as dificuldades eram grandes, principalmente pela falta de água limpa para irrigar as plantações. Hoje, com o acesso à água tratada, a realidade é outra.
“É uma felicidade enorme poder regar nossas hortaliças com água de qualidade. Isso nos permite trabalhar melhor, garantir alimentos saudáveis e sustentar muitas famílias,” comemora.
Tratamento da água vai muito além da torneira
A água potável é um direito de todos. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o acesso à água potável e ao saneamento é um direito humano fundamental, essencial para nossa saúde e bem-estar. No Brasil, a Constituição Federal também garante esse direito, considerando esse recurso como um bem necessário para a vida e para a saúde pública.
Em Teresina, a água que chega até nossa casa passa por um processo cuidadoso. A cidade conta com duas importantes Estações de Tratamento de Água, a ETA Sul e a ETA Norte, responsáveis por transformar a água bruta em um recurso seguro e potável. Além disso, o sistema de fornecimento conta com 138 poços tubulares profundos e mais de 3.100 km de rede de distribuição, levando água tratada para todos os cantos da cidade.
Mas não é só o fornecimento de água que tem avançado. O tratamento de esgoto também é uma prioridade em Teresina, com 29 estações de tratamento de esgoto e 84 estações elevatórias espalhadas pela cidade. Um dos destaques desse trabalho é a Estação de Tratamento de Esgoto Pirajá, que está passando por obras para ampliar sua capacidade de tratamento, de 150 para 250 litros por segundo. Mesmo com as obras em andamento, a estação já trata cerca de 40 milhões de litros de esgoto por dia, o que equivale a 19 piscinas olímpicas.
Esse esgoto, depois de tratado, é devolvido de forma segura aos rios Poti e Parnaíba, ajudando a melhorar a qualidade da água e a preservar o meio ambiente. Com a ampliação da estação, a capacidade de tratamento deve crescer ainda mais, trazendo benefícios diretos para a saúde pública e para a qualidade de vida na cidade, além de impactar positivamente no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Teresina.
Processo de tratamento: como a água chega nas casas
Como a água que chega até a nossa torneira e se torna segura para consumo? Tudo começa nos rios Parnaíba e Poti, que são fontes de água bruta. A água retirada desses rios passa por um processo rigoroso de purificação nas Estações de Tratamento de Água (ETAs), operadas pela Águas de Teresina.
Entenda como funciona:
- Coagulação: A água recebe um produto químico que ajuda a juntar as sujeiras pequenas, formando aglomerados. Esse processo facilita a remoção das impurezas.
- Floculação: A água é agitada suavemente para que os aglomerados se juntem ainda mais, formando flocos maiores que vão para o fundo.
- Decantação: A água é deixada em repouso. Os flocos pesados caem no fundo, enquanto a água limpa sobe para a parte superior.
- Filtração: A água mais limpa passa por filtros, removendo qualquer impureza final e melhorando a qualidade.
- Desinfecção: A água recebe cloro, que elimina microrganismos como bactérias e vírus, garantindo que ela seja totalmente segura para o consumo.
“São dois serviços que funcionam de forma diferente. O tratamento e abastecimento de água é realizado por meio da captação, que pode ser feita em rios ou através de poços. Essa água passa por um processo de tratamento seguindo os parâmetros de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Após o tratamento, ela chega às residências por meio de bombeamento, garantindo um abastecimento pleno”, explica o Gerente de Responsabilidade Social da Águas de Teresina, Gabriel Barbosa.
O avanço e o impacto na vida dos moradores
O saneamento básico é uma questão fundamental para a saúde pública e a preservação do meio ambiente. Em Teresina, os investimentos nos últimos anos, como a extensão da rede de água de 3.142 km e de esgoto de 680 km, resultaram em um volume produzido/tratado de água que evoluiu para 106.885 m³, atendendo a uma população de 1 milhão de pessoas com acesso à água. Isso tem mostrado como o acesso à água potável e a coleta de esgoto podem transformar a vida das pessoas e melhorar a infraestrutura urbana da cidade.
De acordo com o ranking do Saneamento 2024, publicado pelo Instituto Trata Brasil, a capital piauiense se destacou por reduzir pela metade as perdas de água potável, figurando entre as principais cidades a alcançar esse feito, ao lado de Boa Vista, em Roraima.
A implementação de tecnologias como a automação, a troca de ramais e a instalação de válvulas de controle tem contribuído para a redução de desperdícios e aumento da eficiência no fornecimento de água e tratamento de esgoto.
Investimentos
Com os investimentos da Águas de Teresina, focados na ampliação do acesso ao saneamento básico, muitas comunidades começaram a ver uma melhoria real na qualidade de vida e saúde. Em sete anos de atuação na capital piauiense, a Águas de Teresina já levou dignidade e acesso à água de qualidade e esgotamento sanitário para mais de 500 mil pessoas, concretizando a meta de atingir 59% no índice de cobertura do abastecimento de água até o final de 2024.
“Desde que assumimos a concessão, em 2017, passamos por um processo de universalização do acesso à água, concluído em 2020, para que todos tivessem água em casa. O segundo passo foi investir no esgotamento sanitário. Naquela época, apenas 19% da cidade contava com rede de esgoto. Em 2023, iniciamos os investimentos lançando um pacote de R$ 300 mil para expandir 220 km de rede coletora de esgoto, permitindo que mais pessoas tivessem acesso à infraestrutura necessária para se conectar”, explica o Gerente de Responsabilidade Social da Águas de Teresina.
De acordo com dados do Censo Demográfico do IBGE, até 2022, cerca de 167.441 domicílios em Teresina não tinham acesso à rede de esgotamento sanitário, o que equivale a 59,83% dos domicílios. Com investimentos superiores a R$ 1 bilhão, a Águas de Teresina tem proporcionado acesso universal à água e melhoria da infraestrutura da rede de encanamento nas ruas, além da modernização e ampliação das Estações de Tratamento de Água (ETA Sul) e construção da ETA Norte.
Atualmente, o esgotamento sanitário em Teresina chega a 60% e as perdas de água estão abaixo de 30%. Os avanços em saneamento também resultaram em uma redução dos índices de doenças relacionadas à veiculação hídrica. “Com a implantação das redes de abastecimento, foi possível melhorar a qualidade de vida das pessoas, que também ganharam em saúde, com a redução dos índices de doenças transmitidas pela água”, destaca Renee Chaveiro, diretor executivo da Águas de Teresina.
Esperança no futuro
Com as obras de saneamento, Maria Zilda viu sua vida mudar completamente. Ela não precisa mais carregar baldes na cabeça e nem improvisar para armazenar água. Hoje, com água limpa na torneira, a saúde dos filhos melhorou e o dinheiro antes gasto com remédios agora é investido em outras necessidades. “Minha vida mudou para melhor. Consegui criar todos os meus filhos com saúde”, conta.
Dona Madalena, por outro lado, aguarda ansiosa a chegada do saneamento básico à sua comunidade. Para ela, isso significa um recomeço e uma vida mais digna. “Eu espero que esse serviço chegue o mais rápido possível, para que eu e minhas filhas possamos ter uma vida melhor”, diz com esperança nos olhos.
A esperança de dias melhores tem uma meta: a Águas de Teresina planeja ampliar a rede de esgoto para alcançar 90% da cidade até 2033. Esse compromisso traz não apenas expectativas, mas também a perspectiva de uma transformação concreta na qualidade de vida de famílias.
“Temos nossos compromissos assumidos em relação à ampliação da rede de esgoto. A nossa meta é não apenas garantir a disponibilidade de rede, mas também concentrar investimentos nos bairros mais necessitados. Nos próximos três ou quatro anos, esperamos atingir 80% da população, para que ela possa se conectar e usufruir do serviço. Isso reflete o nosso compromisso em transformar a qualidade de vida das famílias da cidade”, explica o Gerente de Responsabilidade Social da Águas de Teresina, Gabriel Barbosa.
A chave para o futuro
Entretanto, para que essa meta seja alcançada, é preciso que as pessoas se conscientizem e ajudem a preservar os recursos, garantindo o acesso ao saneamento básico e à água. Além disso, é fundamental apoiar os esforços da Águas de Teresina para melhorar a infraestrutura e promover a saúde pública na cidade.
“Para alcançar a meta de saneamento básico é fundamental que todos se envolvam. A conscientização e a educação sanitária são essenciais. Cada atitude, como preservar a água e descartar o lixo corretamente, faz a diferença. Juntos, podemos ajudar a transformar nossa cidade em um lugar mais saudável e sustentável", finalizou Gabriel Barbosa.
A inocência de uma criança carrega a pureza da esperança, um brilho que nos inspira a sonhar com um futuro melhor. Cuidar da água é cuidar da infância, é proteger a vida e assegurar que cada sorriso inocente se transforme em força para um mundo mais justo.