Facções usavam redes sociais e mulheres como “influencers do crime”, diz delegado

Suspeitas presas agiam como influenciadoras do crime, organizavam punições.

As mulheres presas nesta quarta-feira (30) pela Polícia Civil do Piauí não tinham apenas função decorativa nas facções criminosas. Segundo as investigações do Draco (Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), elas comandavam núcleos inteiros, executavam ordens, organizavam crimes e usavam as redes sociais para atrair jovens para o mundo do tráfico.

A atuação acontecia em várias frentes: algumas exibiam armas e exaltavam a facção em vídeos publicados em redes sociais. Outras davam ordens diretas dentro dos chamados “tribunais do crime”, decidindo punições contra membros que desrespeitavam regras do grupo.

Foto: Ascom/SSP
Facções usam mulheres como influenciadoras do crime.

“Essas mulheres tinham papel ativo na sustentação da facção. Não era só propaganda: elas também repassavam informações, arrecadavam dinheiro, organizavam punições e ajudavam a expandir o domínio territorial”, explicou o delegado Charles Pessoa.

Segundo ele, o grupo agia de forma estruturada. As lideranças femininas se comunicavam por meio de aplicativos de mensagens e usavam códigos para despistar a polícia. “Era uma rede bem articulada, com divisão de funções. Algumas cuidavam da ‘disciplina’, outras das redes sociais e outras da logística do tráfico. Tudo era documentado em conversas e áudios que a gente conseguiu acessar durante a investigação”, completou.

Recrutamento virtual

Um dos pontos que mais chamou a atenção dos investigadores foi a forma como essas mulheres se apresentavam na internet. Com vídeos editados e postagens direcionadas, elas tentavam “glamourizar” o crime.

“Elas criavam uma imagem de poder e respeito, muitas vezes com armas em punho ou ostentando dinheiro. Isso serve como vitrine para adolescentes que vivem em áreas vulneráveis e que se sentem atraídos por esse estilo de vida”, disse Charles.

A polícia classificou esse comportamento como uma forma moderna de recrutamento. “Antes, era boca a boca, agora é o Instagram. Essas lideranças criaram um modelo de influência criminosa digital.”

Facções têm adaptado métodos

A presença cada vez maior de mulheres nas lideranças não é novidade, mas o nível de organização e exposição surpreendeu a Polícia Civil. “A facção se adapta. Quando a polícia aperta um lado, eles reorganizam. Nesse caso, vimos mulheres que não só estavam no topo, como também ampliavam o alcance do grupo nas redes sociais”, afirmou o delegado.

As investigações continuam para identificar quem mais fazia parte da estrutura. A polícia informou que outras lideranças femininas podem estar sendo monitoradas.

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